Homens e Gatos



Ninguém sabe onde começam e onde acabam as semelhanças. O certo é que entraram no quotidiano do povo. Homem bonito é um gato e mulher bonita é uma gata. A beleza humana comparada à destes animais meigos de pêlo macio e suave.

Até na SIDA as semelhanças são mais do que muitas. Os vírus que provocam a destruição do sistema imunitário actuam de forma semelhante e pertencem à classe dos retrovirus, possuindo o seu habitat natural em cada espécie.
As formas de transmissão são as mesmas ou semelhantes. O estigma da doença nos humanos foi transferido para os gatos e na impossibilidade [por muitos desejada] de morte aos infectados humanos, levantam-se as vozes que clamam o abate dos gatos com sida.

Por outro lado, “matam-se” os humanos com a discriminação e o apontar do dedo que julga e castiga. Rotulam-se com adjectivos depreciativos existentes ou inventados. Criam-se tensões tais que levam alguns que as não conseguem suportar a porem termo à própria existência.

Morre-se na solidão e na vergonha de um erro cometido igual ao acto que dá origem à vida: o de fazer amor. O esperma e o sangue, elementos essenciais à vida e que estão na sua origem são transformados em demónios e prenúncio de morte. Um crime hediondo visto por muitos como uma condenação perpétua sem perdão ou atenuante
Forjam-se criminosos de seringa em punho com sangue infectado, como se de uma pistola se tratasse, mudando apenas uma letra na frase conhecida “O dinheiro ou a [V]SIDA” .

Homens e Gatos, destinos semelhantes numa doença que não é perigo para ninguém, diz a ciência - e que tem formas definidas de transmissão, as quais são facilmente evitáveis.
Felizes os Gatos que como o Simão têm os dedos dos donos feitos para acariciar e o seu amor que os cuida e mima.
Infelizes os homens que na sua complexidade e independência sentem os dedos apontados, tantas e tantas vezes disfarçados de compreensão e tolerância não sentida.

Sentires sem sentido e medos que não causam temor com origem na ignorância. Razões sem razão para existirem, mas que por absurdo que pareça existem sem razão.

Direito à morte


João vive numa pequena aldeia onde todos se conhecem. “Uma jóia de homem” – diz uma vizinha que o conhece há muitos anos e que envelheceu com ele. Noventa anos. Trabalhou, casou, criou os filhos e ama os netos. A esposa dona Antónia, não sai de casa. Sofre de Alzheimer e a doença fez com que perdesse todos os amigos. É agressiva a maior parte das vezes mesmo para com os netos de quem tanto gostava.
João arrasta-se pela calçada em passos apressados mas doloridos. Não pode demorar muito e deixar Antónia sozinha. “ Ohh homem… tens de a por num lar. Isso não é vida e estás a matar-te aos poucos” João sorri para amiga que lhe falou e prossegue o seu caminho apressadamente. Ninguém sabe a dificuldade de encontrar um lar para acolher uma pessoa com esta doença.
Outrora um homem que amava a vida e a família é hoje um trapo sem vontade de viver. A sociedade, alheia à dor dos outros impõe regras morais, direitos e deveres. Fazem leis e códigos de conduta. Condenam e proíbem. Julgam sem saber julgar.

A pacata aldeia, acorda ao som de sirenes. Ambulâncias do INEM , vários carros de policia, frente à casa de João e Antónia. Fitas vermelhas e brancas estendidas à volta da casa interditam o espaço.
João matou Antónia, asfixiando-a e enforcou-se de seguida.
Chegam carros com jornalistas, fotógrafos e televisão. Entrevistam-se os vizinhos. Querem saber tudo de João. Pensam em títulos que vendam a Noticia: “Idoso mata companheira” … “ Idosa doente barbaramente assassinada pelo marido” … pouco interessa a verdade. Interessa chamar a atenção.

Descrita a cena, reflectir sobre a mesma é algo que levanta um sem número de perguntas. Pensar sobre eutanásia e instituições de cuidados paliativos que acolham doentes crónicos em fase terminal impõe-se. O direito à morte quando a vida deixou de ser aquilo que a define.
João morreu. Poderia viver mais uns anos rodeado do amor dos filhos e dos netos que devido à doença da mulher e à agressividade se afastaram. Poderia ter tido um fim de vida digno relembrando com doçura todos os momentos felizes que viveu.
Antónia poderia ter partido de forma serena, rodeada por aqueles que a amavam.
O crime não é de João mas da sociedade que o condenou. A injustiça da vida quando uma lei cega, proíbe e condena o direito à morte.

Raul Almeida

Medicamentos Naturais

“...descobri há 6 meses que sou soropositivo, e os retrovirais me fazem muito mau, sou hipertenso e cardiaco, gostaria de saber se existe um medicamento natural para substituir o retroviral e que me faça sentir bem após seu uso...”

O texto acima é um excerto de um email que me foi enviado por um leitor. Respondo-lhe contando uma história vivida por mim, a qual é uma homenagem a um amigo que partiu.

Em tempos houve um grupo de seropositivos que fez amizade através de um chat. Convivíamos, fazíamos piqueniques, acampamentos e jantares. Havia amores e desamores, guerrinhas e brincadeiras. A única coisa que tínhamos em comum era o rótulo que a infecção pelo HIV nos deu. “Sidosos”. Nunca ninguém nos chamou tal, mas nós mesmos considerávamos este rótulo como o fato que vestíamos.
O “Cinzas”, era um tocador de viola e artista na recuperação de antiguidades em madeira. Dedicava-se às curas naturais. Era um infectado com o perfil de desenvolver o vírus muito lentamente. Pesquisava tudo, lia tudo e tinha o dom de irritar os médicos (donos do site) com as suas publicações sobre medicamentos naturais o que levou com que estes, fechassem o elo de contacto entre o grupo que acabou por se desfazer. Tomava medicamentos naturais importados de todo o mundo e proclamava a cura.

Eu defendia os medicamentos desenvolvidos pela ciência. Ia investigando os progressos, pensando em experiências de interrupção programada da medicação. Os medicamentos eram muito fortes e levaram-me várias vezes a ser internado num hospital. Foram os rins que começaram a dar sinal até que suspendi o medicamento que sabia estar a provocar esse problema. Depois foi o fígado que falhou com o novo medicamento que substituiu o que me fazia mal ao rins. Mais um internamento hospitalar, desta vez mais grave.
Nova troca de medicamentos e passados alguns anos o coração deu de si. Abriram-me, tiraram a safena da perna e puseram-na a levar sangue para ser bombeado com nova canalização.
Tem trabalhado e continuo a viver. O mau estar inicial que os comprimidos me causaram passou e já está esquecido, embora recorde que me custou bastante.

Continuo a viver com os medicamentos desenvolvidos pela ciência e tenho uma qualidade de vida relativamente boa.
"O Cinzas", que era um resistente e no qual o vírus progredia muito lentamente, seguiu o destino que a todos espera e morreu.

Passado pouco tempo após a sua morte, encontrei-me num congresso com o médico a quem o "Cinzas" punha os cabelos em pé, com as suas teorias e práticas da medicina natural. Já não o via há anos e cumprimentei-o. Começámos a conversar e a lembrar os tempos do chat onde o grupo se encontrava.
Perguntei-lhe se ainda se lembrava do "Cinzas", ao que respondeu afirmativamente. Tinha sido seu paciente e recordou as tropelias sobre as tomas e não tomas de medicamentos e misturas com remédios naturais.
A certa altura disse-lhe: “Sabe doutor, ele conseguiu curar-se e eliminar o vírus.”
O médico ficou atónito… direi mesmo embaraçado. Não sei o que lhe passou pela cabeça, mas certamente lembrou-se das discussões entre ele e o seu paciente sobre os benefícios da medicina natural no tratamento do HIV. Olhava para a sua expressão, com um certo gozo. Eu, como todos os elementos do grupo ficámos sentidos com a sua atitude de fechar o chat, restringindo a liberdade de falarmos. A relação de amizade já não era a de outrora.
Fiz uma pausa propositada enquanto o embaraço se mantinha e o silêncio imperava na conversa. Depois de algum tempo disse-lhe:
“… foi cremado a semana passada no cemitério dos Olivais”.
O médico respirou de alívio, e continuámos a conversar recordando bons velhos tempos.

A história que contei é real. A decisão a tomar pelo leitor que me escreveu o email, de procurar alternativas ao tratamento antiretroviral, pertence-lhe. Tem esse direito.
Poderá haver quem conte histórias diferentes. Esta é verdadeira, as outras poderão sê-lo ou não.
Um abraço para o “Cinzas” , cujas cinzas pertencem à mãe terra, esteja ele onde estiver.

A Lanterna e o Cego



Um sábio ofereceu a um cego uma lanterna para que na escuridão iluminasse o seu caminho. Espantado com a oferta perguntou:
- Senhor de que me serve uma lanterna se sou cego?
- Poderás não ver a sua luz mas outros a verão e não esbarrarão em ti.
Confiante seguiu o seu caminho e aquele objecto aparentemente sem utilidade deu-lhe a força e segurança que precisava para seguir em frente.
Tantas vezes tolhidos pelo medo, desistimos da nossa caminhada esquecendo-nos que dentro de cada um de nós existe uma lanterna invisível que nos protege das agruras da vida e nos permite seguir o nosso destino em segurança. Somos cegos porque nos falta a confiança nas nossas potencialidades. Somos cegos por não querer ver toda força escondida em cada um de nós. Somos cegos porque a preguiça e a vontade de agir estão em desequilíbrio e o medo de tantos erros cometidos nos convencerem de que tudo o que possamos fazer será mais um. Desistimos e ao desistir matamos a possibilidade de poder vencer. A sorte protege os audazes que face a todas as derrotas sofridas, repetidamente procuram a vitória. A desonra não está na queda mas sim em não tentarmos erguer-nos de novo.

Frutos Sazonais





“Andas azedo”, disse-me alguém que se permite a esses luxos, sem levar como resposta um chorrilho de concomitantes palavras menos doces, pela amizade existente entre nós.

Pequenas coisas servem como detonador em simpático inerte explosivo que só deflagra quando activado por uma carga atiçadora.



Curiosamente penso até nem ser pessoa de maus fígados, pese o facto de uma cirrose num dos lóbulos do dito órgão, que penso não ter qualquer influência na minha raiva social a qual repetidamente acontece na quadra natalícia, falácia de religiões que a inventaram para dar continuidade às festividades pagãs do solstício de inverno e tão bem aproveitada pela máquina de marketing do comércio global.
Paz e amor entre os humanos, enquanto o glamour das luzes brilha e caridade e bondade estão na moda desfilando em todas as passerelles, ocultando debaixo dos vistosos trajes a hipocrisia e a ganância entre outros adjectivos nada nobres.

Ando azedo e o meu azedume aumenta a cada dia, em cada bombardeamento de informação que mostra os sentimentos de bondade e amor ao próximo dos notáveis da nossa sociedade.
Publicidade gratuita num jantar dado a uma criança órfã e doente ou numa tenda com aquecimento e doces da época para alguns sem abrigo, que estiveram esquecidos durante todo o ano. É esta a bondade dos senhores na terra dos homens.
Também eu festejo o natal, uns dias antes mas festejo. Festejo-o na noite mais longa do ano dormindo um pouco mais. Enquanto durmo o mundo gira e avança rumo ao expirar dos meus dias, sem que sinta as injustiças num mundo do qual faço parte mas onde estou de passagem.
Esvai-se em mim a ira e revolta aos risos e esfregar de mãos, em sinal de contentamento dos vendedores do templo, quando a inocente expressão de felicidade no sorriso de uma criança se faz notar ao receber uma prenda. Cresce feliz alheia à realidade do mundo que a rodeia e que ainda não entende.
Ao mesmo tempo penso noutras crianças às quais bastaria um pão para lhes matar a fome e que expressariam o mesmo sorriso de felicidade se o tivessem.
Ando azedo. Desculpem este meu azedume. Um charro ou uma bebedeira poderão fazer-me rir e esquecer esse azedume, enquanto o efeito não passar. O “Santa Claus” também o faz, quem sabe para esquecer a deturpação da imagem que lhe deu vida.

Estado da infecção


Já há tempos que o HIV andava arredado da minha mente e escrever sobre ele muito menos.
Existe… é preocupante, mas temos tido uma relação pacífica depois de ter domesticado o bicho.
Está presente mas não se manifesta e os anos vão passando tranquilamente com uma qualidade de vida satisfatória com alguns percalços pelo caminho.
Lembro-me do saudoso Raul Solnado e da sua ida ao médico. Imito-o no catálogo das doenças e escolho algumas. Tenho quanto baste sendo que algumas põem em risco a continuidade de vida, mas estou bem. Preocupantes? Sim, mas isso pouco importa pois o espectáculo da vida à semelhança de qualquer outro também tem fim. Cessação de actividade, fica a obra escrita.
Estabeleci prioridades e a vida tem de ser escrita. A Sida também, ou a vida com ela quando tiver de ser e houver vontade de o fazer.
Hoje é um desses dias em que me apetece divagar sobre o que tem sido feito e os avanços no campo das terapias. Há coisas interessantes.
O regresso às mono-terapias. Será bom ou mau?
Pela parte do doente poderá ser interessante, pois controla o vírus com menos químicos e assim poupa alguns órgãos do seu corpo especialmente o fígado. Permanece o medo de queimar um medicamento ou um grupo deles e assim ter menos opções terapêuticas eficazes. A coisa parece estar a correr bem e os espanhóis estão contentes com as mono-terapias e mantêm as cargas virais suprimidas. Vamos aguardar a continuidade dos estudos feitos às 48 semanas. Os governos ficam felizes, pois fica-lhes mais barato e se forem eficazes nós também devido a uma toxicidade muito menor que somará anos de vida. De Espanha nem bons ventos nem bons casamentos diz o povo e esperaremos que por condições economicistas e não cientificas o nosso ministério da saúde as não ponha em prática sem certezas.
Uma outra preocupação é a penetração dos medicamentos no cérebro. Mais dia, menos dia todos damos em maluquinhos pois o vírus afecta o cérebro à semelhança do nosso governo e das medidas de austeridade impostas. Infectados e não infectados corremos o risco de insanidade mental, portanto estamos em igualdade de circunstâncias.
É importante saber os medicamentos que atravessam a barreira hemato-encefálica e controlar a carga viral no liquor cerebral isto para proteger o Sistema Nervoso Central. São necessários estudos e em especial voluntários dispostos a regulares punções lombares.
Sinceramente não estarei muito disposto a isso pelo doloroso que é. Vamos aguardar.
Há umas vacinas estimulantes do sistema imunitário para aqueles que tendo a carga viral suprimida têm um baixo número de células CD4. Pretendem recuperar os sistemas imunitários mais fragilizados. Estão em fase III de desenvolvimento portanto já bem avançadas.

Por hoje chega de falar do mundo do HIV, embora haja mais coisas interessantes depois do congresso de Glasgow.
Os pipe-lines da investigação estão e ser bem guardados para serem apresentados no CROI que se realiza no principio do próximo ano.



Quando as estrelas se escondem no firmamento, a lua deixa de brilhar e a luz da alma dos homens se apaga, impera o negro vazio do reino das trevas, onde a tormenta a raiva e o desespero são senhores do mundo. Entregam-se rendidas à negritude, como que arrastadas por levada de águas barrentas, que em incontrolável fúria descem a montanha engolindo tudo o que encontram no caminho.

Morre a esperança do viver, há abandono e pânico. Ouve-se o bater de asas dos vampiros esvoaçantes, senhores das trevas, na incessante procura do sangue quente da manada que lhes satisfaz tão voraz apetite. Sentem-se sombras invisíveis, abortos de luz arrepelada, entre o uivar de lobos como se fosse prenúncio de corpos dilacerados por afiados dentes que rasgam a carne e esventram órgãos em sumptuosos e sanguinários banquetes.
Esquece-se a luz e reina o império das trevas em perene eternidade dura e sofrida.

Subitamente há um clarear ao longe que a pouco e pouco se intensifica e ofusca o reino das trevas. Revelam-se as sombras e silencia-se o bater das asas dos vampiros. Adormecem os lobos em seus covis com as bocas tingidas com sangue de cordeiros.
Renasce a esperança ao nascer da aurora e nas almas em tormento surge de novo a luz interior que as faz brilhar.
O sorriso de crianças e o chilrear das aves da vida apagam todo o tormento sente-se a felicidade na simplicidade que a caracteriza. Vive-se a vida em cada renascer, procura-se a eternidade em harmonia e bem-estar. Esquecem-se os sofreres, as dores e as agruras vividas.

Esquecemos que tudo é perene e que a vida é fortaleza inexpugnável, forte como castelo de um baralho de cartas, enquanto o equilíbrio for senhor do seu destino.

Luz e Sombra





Na poeira do passado vislumbra-se distante a imagem do presente. Os céus olhavam-se iluminados por milhões de estrelas com nomes que eram os guias na orientação da caminhada dos viajantes do tempo.
Poético este andar errante pelo imutável mundo das estrelas celestiais que sempre encontrava destino. Mais perto ou mais longe, existia mesmo sem sabermos como seria. Apenas seguíamos as estrelas.
Quiseram os homens trazer os céus à terra um dia. Inventaram a lâmpada e iluminaram cidades. Reproduziram-na aos milhões querendo ter na Terra, tantas como as estrelas que há no céu. As cidades brilham e o céu apaga-se ofuscado pela luz do terreno. Não se vislumbram os guias, mas eles permanecem em brilho constante fora do clarão das lâmpadas.
Os Homens seguem numa errante caminhada procurando o destino. Desconhecem como será, desconhecê-lo-ão até lá chegar. Procuram em labirínticos mares de luzes que se apagam e acendem ao simples toque de um botão que liga ou desliga, como guias em part-time.
São descobridores de um destino incerto que no fundo é tão certo. A certeza desse existir é-lhe quase tormenta. Pode ser o simples apagar da lâmpada ao toque do botão que ligará de novo. Pode ser um esgotar de energia não renovável que jamais se acenderá.


Diário de Bordo



Passa o tempo a correr e em paragens para nos orientarmos e saber onde estamos, aproveitamos para pensar e fazer um pequeno balanço sobre o estado do “Ser”.
Notei que no último ano, nada escrevi sobre “SIDA”. Sobre sidodependência também nada.
Acho mesmo que nunca escrevi nada sobre “Sidodependência”. A palavra até nem existia antes de eu a escrever. Terei de a explicar, porque ela define uma patologia presente em infectados e não infectados pelo VIH.
Poetas, escritores, filósofos e pensadores, por vezes utilizam palavras novas. Palavras que sem estarem nos dicionários e com significados múltiplos, têm uma abrangência que vai muito além do valor verbal que lhes é dado. ______________ traços contínuos também falam, assim como palavras que não são escritas.
Com eles aprendi algumas coisas. Uma delas foi aprender a escrever não escrevendo. Aqui e ali tomo um apontamento, tão importantes são as palavras não escritas.

Voltando à descrição do que é um Sidodependente, (eu fui um deles) é complicado explicar o que é. Uma definição poderá ser: Individuo em que o seu universo é a SIDA ou o medo dela, e deixa de ter uma vida própria dita normal. A SIDA é um campo magnético que prende e em cuja órbita giram todos aqueles que se deixaram prender a esse campo gravitacional.
O sidodependente poderá até nem estar infectado, in vivo, pelo vírus. Vive o medo e esse medo bloqueia todo o seu pensamento. Faz testes e mais testes, todos de resultado negativo, mas o fantasma de estar infectado vive em si. Tem a mente infectada por um clone imolecular do vírus do medo.
Outro tipo de sidodependentes, são aqueles que procuram toda a informação, todos os progressos científicos, na procura da solução final que é a erradicação do vírus do corpo humano. Muitos deles superam em conhecimento sobre tratamentos os próprios médicos.

A cura desta patologia, da qual penso ter-me livrado não é fácil. Poderia estar envolvido no estudo da conferência de Viena, que acabou de decorrer, mas acompanhei-a ao largo. Atento mas ausente. Tenho a praia também. Tenho almoços com amigos e algumas saídas. Tenho árvores frondosas e bancos de jardins, onde em silêncio leio livros que me são vida.
A VIHDA, é triste demais e dolorosa. Vivida em conjunto com a VIDA, poderá ser aquilo que nós quisermos que seja.

É preciso ouvirmos cânticos de júbilo no ar, ouvir o cântico dos pássaros, sentir o massajar de brisas frescas no rosto. Sentir a paz e o amor que tantas vezes nos falta.
Basta ter um passaporte que nos permita passar as fronteiras entre o inferno e o céu, para estarmos onde quisermos. Sem ele, estamos num deserto onde os sinais de vida são ossadas calcinadas pelo tempo, que jazem sobre areias douradas.
Hoje falei sobre sida em meu vihver. Falei da cura da sidodependência e de estar curado.
Não refiro as recaídas, onde o meu consumo se resume. Entro e saio livremente, sendo que estou a maior parte do tempo fora.

Agora vou para a praia. Depois almoço uma comida tipicamente portuguesa, dormirei a sesta e lá para a tardinha vou namorar. Talvez dar longos passeios à beira-rio sentindo a brisa fresca da tarde. Posso passar pelo muro mítico, olhar os flamingos ali tão perto. Rever os amores do passado e os de hoje. Parar a vida em pensamento e fazer o balanço entre a coluna do deve e do haver.
A vida planeada ao segundo, alheia aos acidentes de percurso. Preciso viver o momento.
Vivendo-o, resume tudo o que me é vida.

O Destapar do véu...


Perdido por outras estradas, hoje decidi publicar um texto diferente. Um texto fora do tema que originou o nascimento deste blog e de todo o projecto "Sidadania". Há vida para além da vihda, e é necessário conservar essa chama bem acesa. Apenas para dizer aos muitos amigos que por aqui passam que estou vivo e que continuo a escrever. Ando perdido em estradas cruzadas, muitas das quais não estão nos mapas. Entre murais do facebook e blogs fechados, que são armazéns de pensares, a revelar um dia destes em papel impresso, deixo-vos este texto publicado ontem no meu mural do FB.

Hoje prometi a mim mesmo não ligar o computador. Tenho trabalho a efectuar e prontos… o tem de ser tem muita força. Nunca fui pagador de promessas de maneira que lhes dou pouca importância. Mas o trabalho correu bem e o vício da “Droga”, que é o computador, falou mais alto. O facebook e os amigos que tenho, merecem que faça a reflexão do dia.

Dois temas apenas: uma descoberta científica, sobre o trabalhar sentado e o desaire da nossa selecção de futebol. Os temas interligam-se e são deveras interessantes.

Cientistas ingleses fizeram um estudo sobre a distribuição do peso do corpo, quando se trabalha sentado, numa posição de noventa graus. A posição menos nefasta, para o corpo humano, é cento e trinta e cinco graus ou seja quase deitado. Planeiam desenhar novo mobiliário de escritório, colocar teclados suspensos e monitores no tecto. É preciso defender os direitos dos trabalhadores. O ambiente de trabalho, ou em termos futebolísticos “O balneário”, tem de ser agradável, para podermos produzir mais. Sou a favor desta medida, pois basta de escravidão no trabalho. Diga-se de passagem que esta descoberta não é nova para os portugueses. Há muito que queríamos trabalhar deitados, mas não nos deixam.

Sobre a selecção… foi giro depois do jogo. Ver a novela Queirós, Ronaldo e mais uns figurantes como Deco, Hugo Almeida e outros. Meninos birrentos a fazerem queixinhas que o mauzão não os deixou ganhar. O mau, esse, com um sorriso chato de se ver, dizia que o menino estava esgotado. O menino diz que estava bem e queria jogar. O mandão devia ter a cabeça a fervilhar. Talvez pensasse:
-tenho de por o levezinho, que embora pouco futebol jogue tem um jeito do caraças para enfiar as bolas lá dentro.
Prepara o discurso do politicamente correcto:
-Todos devemos estar orgulhosos do que a nossa selecção fez e do esforço dos nossos jogadores… blá blá e pardais ao ninho.
Eu com o meu mau feitio questiono-me se o orgulho deve ser pela mêda que fizeram, julgando-se campeões do mundo, mesmo antes de entrarem em campo. Raios… tínhamos o Ronaldo… como se ele bastasse. Aliás jogou muito bem, parecendo uma barata tonta que se movimentava pelo campo.

Custou-me ver a desilusão dos putos que trabalharam, enquanto outros se pavoneavam pelo campo como estrelas que encandeiam todos à sua volta.
Custou-me ver, o modesto porteiro (guarda-redes) chorar. Evitou que todos os hóspedes indesejáveis entrassem por aquela porta e fez milagres rechaçando-os um a um. Barra a passagem mais uma vez, mas o hóspede repete a investida e lá consegue entrar, destruindo-lhe todos os sonhos.

Concluo a reflexão, enaltecendo as vantagens para o corpo humano em se trabalhar deitado. É preciso criar condições para que isso aconteça. A FIFA tem de ser mais aberta às tecnologias do futuro e criar condições para que se possa jogar futebol deitado. Um dia o sonho de sermos campeões mundiais irá realizar-se. Seremos a selecção que mais bolas metem no buraco. Então gritaremos felizes: é gooooooolo…é gooolo… é golo...

Corrosão Temporal


O tempo em que os blogues eram uma janela aberta ao mundo da comunicação, em que cada um publicava aquilo que lhe ia na alma e mostrava os seus dons para a escrita é um pouco passado. Tudo na vida tem o seu espaço, prazo de validade e ou utilidade. Há produtos que hoje estão no TOP de vendas e amanhã são monos.
O “SIDADANIA” , tal como foi concebido, não foge à regra. A sua decadência acompanha a da “SIDA”, que outrora foi estrela no palco das calamidades globais e preenchia os títulos de todos os meios de comunicação de massas. A notícia era procurada, como se fosse ouro de garimpo, em jazida recem descoberta. O “El dourado” dos média . A exposição de um seropositivo ao público sedento de conhecer o rosto da “Sida” era uma pepita enorme. Um seropositivo com uma máscara veneziana branca era uma pepita menor, mas importante. O paraíso de toda a macacada em recinto de Jardim zoológico, em que pessoas infectadas por uma doença eram espécies raras em exposição.
O projecto deste blogue continua. Melhor falando o projecto “SIDADANIA” deixou apenas de ser um blogue, embora este blogue faça parte desse projecto. É pouco visível o trabalho do “SIDADANIA” em formato blogue, mas continua a ser um lugar de registos de vida.
É importante ter uma causa para a vida e a minha causa chama-se “SIDA”. Mais importante é ter vida e a vida não é só Sida, embora seja algo importante na mesma. Há trabalho de bastidores a ser feito e esse trabalho não se reduz apenas a encorajar os recem infectados e ensiná-los a viver uma nova vida face à infecção.
É importante acima de tudo, renascer, adquirir conhecimento e deixar registos de uma efémera passagem por este mundo. É isso que estou a fazer neste momento.
Tento agarrar o tempo que não tenho, fluindo através do mesmo. Vivo a vida em reflexão do passado reconhecendo erros cometidos e tentando em cada um deles aprender uma lição. Seguro nas mãos o presente com todas as forças para que ele não se escape, esforço tenaz e vão, já que o mesmo é arrastado na corrente que dita o futuro.
Sou ave em voos de longo curso, que de quando em vez por aqui pousa, deixando marca, já que aqui me é berço e útero de mãe.
Um abraço àqueles que por aqui pararem.

Dia da Vacina contra a SIDA

Hoje celebra-se o “Dia Mundial” da vacina contra a SIDA. Também foi para mim apenas “Dia” de ir ao médico para saber o meu estado clínico.
Pessoalmente celebro, anos sem conta de estar bem e com qualidade de vida. Nem todos podem dizer o mesmo, é certo, mas contudo penso que uma grande maioria da população infectada que tem acesso ao tratamento anti-retroviral está bem e com cargas virais suprimidas.
Celebrar o que não existe ou ainda não aconteceu, mas que se deseja, parece um paradoxo contudo não é tanto assim.
Poderá servir de dia de reflexão e de saber um pouco mais acerca do estado de investigação no desenvolvimento da sebastianista vacina. Virá num dia de nevoeiro, quando muitos dos que a desejam já partiram, por terem vencido o prazo de validade de vida.
Há indícios científicos face ao conhecimento actual do VIH que é possível fazer uma vacina eficaz. Indícios, esperanças e desejos que o tempo revelará.
“ Primavera de flores envergonhadas em que o fruto será revelado pelo tempo”

Pausa para o Café


“O prometido é devido”, diz o povo na sua sabedoria e acho que tem razão. Algures de um lugar no espaço planetário terra ou fora dele, mandei uma mensagem por um viajante interplanetário, que dizia que eu voltava com a primavera. Encarnado nessa cultura popular quis cumprir e voltei. Cansado. Muito cansado de tanto escrever, confesso. Milhares de páginas talvez, ou mesmo centenas isto para esconder a minha mania crónica de enaltecer os feitos.
Muito se perdeu ou anda espalhado pelo cyber espaço. Houve quem guardasse textos e outros não. Muito está religiosamente guardado em ficheiros e outra parte impressa em papel.
Acho que vou fazer uma pausa para tomar um café depois de uma maratona. É um coffee break, não programado para depois prosseguir com os trabalhos.
Voltei ao blogue a pedido de alguém, de quem sou amigo há muitos anos e que me pediu para voltar a publicar. Não poderia deixar de o fazer, pela consideração que tenho pela pessoa em causa, e por outros que mandaram emails.
Não vou estar muito activo na publicação de textos mas irei fazê-lo regularmente, sem tema definido e até enquadrando textos de outros sectores onde escrevo.
Ando por mundos diferentes actualmente. Viciado pela escrita envolvi-me numa teia em que a dependência pelo conhecimento é a tónica. Sinto-me bem por lá e não quero de lá sair.
É tempo de reflexão e de aquisição de conhecimento. É tempo de viver a magia da vida e pensar que mesmo no meio de todas as adversidades que cada um de nós tem vale a pena viver a vida até ao último suspiro.
Não há céu nem inferno mas apenas vida. Cabe a cada um de nós fazer dela o objecto de arte a que nos propomos, e transformá-la naquilo que quisermos.
Sinto-me pouco à vontade a escrever de novo em blogues, mesmo neste Sidadania que foi algo que eu amei. Acho que já não sou um blogueiro e que o meu mundo neste tipo de comunicação escrita, está algures noutros lugares e noutros suportes quer digitais ou de papel.
Não deixarei a blogosfera, mas estarei menos presente. A vida é como um riacho em que somos a água que por ele corre e lhe dá beleza e o próprio ser. Sem água ele não seria um riacho, apenas um leito seco de águas que por ali passaram. Eu sou um pouco assim.
Voltarei em breve, mas agora vou saborear a chávena de café fumegante que me espera.
Chegou a primavera, mas ainda está frio e um café quente sabe sempre bem.
Até já….

Mil e Uma V i d a s


Há momentos em que a leitura me confunde e revolta. Aconteceu sublevar-me perante um texto de Nietzsche no qual afirma que vivemos a mesma vida eternamente. Tudo o que fizemos e iremos fazer enquanto a matéria corpo se mantiver, já o fizemos milhões de vezes e iremos repetir tudo pela eternidade. Cópias de uma vida que desde a primeira edição se mantém inalterável como se fosse um produto de fabrico de série em fábrica de chinês onde a qualidade não prima pela perfeição e apenas a quantidade conta.

Condenados eternamente à rotina de um viver pejado de erros e actos nobres onde estaria o sentido da vida? O miserável sê-lo - ia eternamente e o bem sucedido a quem o destino bafejou com a sorte também. Seria um inferno terrível em que os infernos tradicionais onde o fogo eterno que castiga os ímpios e lhes purifica as almas pareceriam uma reconfortante lareira que ameniza o frio nas geladas noites invernais.

Aceitaria de bom grado esta teoria se a vida fosse o rascunho no projecto de uma vida livro onde nas primeiras páginas houvesse uma lista de erratas a corrigir até que a obra estivesse acabada. Leria com agrado a versão final para impressão onde a vida de qualquer ser humano seria uma obra-prima.

É certo que muitas coisas gostaria de repetir mas tantas outras gostaria de rever e corrigir. Repetiria alguns dos erros cometidos na cópia anterior, pelo êxtase e prazer que me deram quando sucederam, para de seguida apagar tudo como borracha apaga texto ou tecla de delete. Seria um renascer programado com registo de acções e actos que rolavam em percursos transformáveis que nos levariam onde quiséssemos e a ser quem desejássemos ser.

Não. Não pode ser. Seria frustrante tanto a versão Nietzsche como a minha, que embora mais preenchedora originaria o caos e a destruição do mundo pois tudo se reconstituiria a seguir.
A versão real com a incógnita do desconhecido futuro para além túmulo permite a cada momento a revisão do errante passado num aperfeiçoamento constante que embora inatingível, conduz ao conhecimento do mais íntimo ser.


Deito por terra o lábaro que erguia entre carcaças pestilentas que se decompõem e caminho sobre elas abandonando o campo de batalha sem contudo o esquecer. Sigo por vielas, carreiros, vales e montanhas e delicio-me com o cheiro das flores silvestres, mais além talvez surja a tentação e num desviar cairei de novo. Aguardo serenamente o final do livro da vida, que não será lido por mim nem por ninguém mas que é testemunho de obra feita e só acessível ao sobrenatural que nos guia. Sou pó, sou cinzas em forma de conhecimento de erros e virtudes que no final esvoaçará aos ventos e será adubo nas sementes que germinarão e assegurarão a continuidade da vida. A eternidade nada mais é do que isto.

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Reflectindo...


Momentos que vêm e passam e constituem o registo de uma vida.
Tendencialmente complicamos o fácil e a comunicação mirra e distorce na vã esperança de sairmos vencedores em pelejas sem sentido.
Por vezes vestimos a pele de vítimas em causas que o não são, apenas pelo prazer de o ser.
Rodeamo-nos de adeptos que em claque façam soar as trombetas em sonoro confundir do pensamento racional.
Cultuamos inverdades e subimos à ribalta querendo o ofuscante brilho das luzes só para nós.
Somos afinal o produto de matéria imperfeita que se desfaz no curso de uma vida.
Recordamos um dia que nos marque pela positiva e outro desfezado cronológicamente, um ano que nos marque pela negativa. Misturados anulam-se e dependendo da positividade de cada um, só o eleito sobrevive.
Afirmamos não usar máscaras esquecendo que somos actores e plateia em simultâneo e que o show tem de nos agradar apenas a nós, guardando o segredo para que ninguém saiba.
Arde a pólvora em explosões estridentes e iluminam-se os céus na magia colorida dos fogos de artifício e logo a seguir vem a penumbra e o silêncio da noite.
Momentos de reflexão no final de mais um ano e o desejo de um balanço positivo no virar de mais uma página do livro da vida. Que todos possamos encontrar a felicidade no próximo ano que se inicia e que esta se perpetue são os votos que aqui deixo expressos.
A vida é uma aprendizagem constante e é necessário mesmo nos momentos mais escuros acendermos a candeia que em segurança nos guie, sem tropeços pelas vielas da vida.
Adaptando o pensamento de um homem brilhante cujas palavras se eternizaram, que possamos ser perdoados pelos nossos erros e que possamos aprender a perdoar os erros que contra nós outros cometeram.
Que possamos viver cada minuto intensamente em paz connosco e com os que nos rodeiam, não só em 2010 mas por todos os anos que somam o registo de uma paragem no planeta que nos hospeda.

Ainda não cheguei...



Vem aí mais um Natal, sem se perceber como, mas vem, mesmo em tempo de crise. Toca a embarcar novamente no espírito desta época, quem o conseguir. Ou quem não se sentir como uma criança a perguntar ao Santa Claus ou São Nicolau: “Acreditas em ti próprio?”, questionando-se sobre a existência do Pai Natal. Deixar de acreditar no homem de fato vermelho e barba branca não é nenhuma tragédia. O que é trágico é relembrá-lo propositadamente sob a forma de riqueza excessiva e de luzes que ofuscam de tal maneira que impedem o exercício da bondade humana precisamente na altura em que se devia acentuar. São Nicolau ou o Pai Natal tornaram-se há muito meros instrumentos de falsa ternura comercial no meio das tempestades que se anunciam por todo o lado: conflitos sociais, greves e protestos, despedimentos, falências, o aumento enormíssimo do custo de vida, a desaceleração económica, tudo tão evidente e irrefutável. Até o tempo anda estranho, ou porque não chove da mesma forma ou porque chove demais, ou porque faz um sol desgraçado nos dias errados. Bem gostaria o mundo que o Natal fosse irreal em lugar de ser o que todos os dias desfila diante dos nossos olhos, seja nas ruas ou nos noticiários… Paz na Terra? Pois sim…
Nos lares e restaurantes apinhados de iguarias que no dia seguinte irão para o lixo, vai acontecer como se nada se passasse e as extravagancias da época aparecem cobertas da neve artificial que maravilha aos olhos e que depois de derreter mostra o mesmo cenário de antes em que pouco ou nada se fez para que houvesse um pequeno Natal para todos. Não tem mal que iluminem as cidades e as casas para celebrar a quadra. Tem mal é que noventa por cento dos presentes e iguarias sejam puro desperdício destinado aos contentores, tem mal é que o tempo de crise não seja aproveitado para gestos gratuitos em lugar de objectos caros. Tem mal quando muitos que afirmam preocupar-se através de discursos que parecem vir de parte nenhuma virem a cara para o lado ao mesmo tempo quando os televisores mostram casas arrasadas, cidades em chamas, catástrofes e cenários de fome e pobreza comprazendo-se na fingida ingenuidade por uns dias. E o tempo não é de ingenuidades, é de graças. De bondade.
Detesto o Natal. É o que digo sempre e quase que a contrariar essa postura, ponho em todos os blogues do Grupo Sidadania, a decoração alusiva à quadra. Arvores de natal com luzes a piscar e uma velinha vermelha acesa decorada com folhas de azevinho.
A hipocrisia reinante por parte dos governantes, dos autarcas e de todos os intervenientes neste show de bondade e amor ao próximo que se manifesta apenas nesta época e não passa de propaganda eleitoral, ou marketing de promoção de imagem e que sempre abominei, já não é o que era.
A crise chega a todo o lado, mina toda e estrutura de uma sociedade e consequentemente muda certos pensares ao comum cidadão e sidadão que sou. Sempre fui contra o consumismo exacerbado que é vivido nesta época, contra os desperdícios de comidas e brinquedos que no dia a seguir faziam montanhas de lixo junto aos contentores, a comida por estar estragada e os brinquedos partidos.
O ritual de abrir presentes, o amontoar de caixas e de papel rasgado que a seguir tinha de ser rapidamente limpo, para se poder circular no espaço onde foram distribuídos os brinquedos, limpeza essa que por vezes misturava pacotes mais pequenos não abertos que seguiam directamente para o contentor do lixo.
Uma ida à cozinha onde a mesa estava posta com os fritos, os arrozes doces, aletrias e afins que se iam provando para juntar ao bolo alimentar já no estômago, constituído pelo bacalhau em pratos cada vez mais elaborados com natas e outros aceleradores de fermentação, que à mistura com vinhos e licores e mesmo refrigerantes, faziam uma mistura explosiva em que o pai natal desaparece de cena e todo o mundo começa a chamar pelo Gregório.
É a ironia da vida e desta quadra.
Hoje sim, visto a casaca de “Novo Pobre” , tomo a iniciativa para tirar a vergonha de tantos e tantos portugueses que teimam em não a vestir por vergonha, mas quando ela já é uma realidade em suas vidas.
Currículos, com licenciaturas, mestrados e outros graus académicos, não são necessários pois há vagas para todos. Quem procurava um tacho tem agora a sua oportunidade de ouro para o ter. Um tacho vazio, mas um tacho. Tacho conseguido sem a ajuda das poderosas “cunhas”. Afinal temos o que desejávamos ou seja acabar com as cunhas e ter um tacho.
Viva a eficácia dos governantes que nos deram o que desejávamos. Muito obrigado a vossa excelência senhor presidente (de qualquer coisa) por este jantarzinho, na cozinha pois havia falta de cadeiras na sua mesa. Obrigado pelo presente ( um tupperware da loja dos trezentos), que vou encher de comida para amanhã. Sempre são dois dias em que não terei de ir para as bichas de distribuição de alimentos dos profissionais da caridade nas igrejas, ou ir inscrever-me no banco alimentar.
Directamente de um país, em que o povo está sempre feliz, que gosta de agitar bandeirinhas seja a quem for, para festejar o que quer que seja, envio-vos os meus votos da felicidade, que ainda não consegui entender nesta quadra, mas isso é devido a uma deficiência que tenho na aprendizagem de me moldar ao presente estado de coisas.

Onde está Raul Ru2X ???


Saudações terráqueos!

O meu nome é Artwoxis Blipovir do planeta Xovirus. Sou caixeiro-biajante de um labatório que se dedica à investigação e fabrico de patologias inovadoras que vendemos aos terrestres.
Na minha viagem inter-espacial tive um furo na minha nave pelo que fui obrigado a parar na ISS (International Space Station) e proxeder à reparaxão.



Enquanto esperava pela reparaxão, dirigi-me ao bar da ISS onde encontrei Sir RU2X que anda a investigar as potenxialidades da terapia em câmara hiperbólica no tratamento do birus da XIDA.
Pediu-me para bir ao bilogue dar nutixias dele, com uma password para XIDADANIA mas como nintendo nada destes sistemas néticos ancestrais foi-me difixile. Ele está bem e sente-se optimamente a flutuar no espaxo. Manda dizer que volta ao bilogue quando chegar uma prima chamada Vera.
Deu-me umas dicas para ir tentar vender umas doenxas inovadoras e tecnologicamente avanxadas ao Eng. Sockets.




Desculpem o mau prutuguês do testo mas é por causa do hacordo holografico.
Dei a nutixia . Esperamos que a prima Vera venha deprexa para ele voltair.


Curdiais blips.

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Por outros labirintos





Fora a estrela da companhia. Brilhara em tempos nos palcos de todo o mundo. Todos falavam dela, da sua performance. Era procurada pelos media pois falar dela disparava as vendas dos citadinos e as audiências televisivas.

A grande estrela SIDA deixou de o ser.

Foi exacerbado o sofrimento, as dezenas de comprimidos diários a tomar, as visitas constantes aos hospitais, os internamentos e todo um sofrer que deixava qualquer um a pensar. A morte e os medos.
Anos depois, surgem os cocktails terapêuticos. A cura não vem mas consegue-se estabilizar a doença e manter o vírus suprimido. Onde há acesso à medicação, já não se morre. Passa a morrer-se da pretensa cura e dos danos que os químicos poderosos para a supressão viral provocam no organismo.
Continua o estigma e o medo de contacto com seropositivos mas é revelado de maneira menos intensa quase imperceptível.
Aparecem novas doenças, peças que vão ao palco das preocupações da vida. Podem matar menos mas ganham o mesmo glamour de tragédia mundial, que é desejada para se vender tempo de antena com grandes audiências e papel de jornal.
Qual o papel da SIDA no futuro? Os activistas e pessoas preocupadas lembram que ela continua a existir, mas poucos se lembram dela.
As grandes farmacêuticas juntam-se na investigação de novos fármacos para VIH para pouparem recursos e manterem vivo o fluxo de entrada de dinheiros para uma doença sem cura. Outras abandonam a investigação na área da SIDA e dedicam-se a outras áreas mais promissoras.
Um blogue temático sobre a doença deixa de ter tópicos de interesse que alimentem textos regulares quer sejam informativos ou testemunhos de atropelos aos direitos dos infectados, torna-se difícil de gerir.

Aos leitores que lêem o Sidadania, fica a herança de pertencerem à história de um blog que nasceu com propósito de divulgação da pandemia e ajuda aos novos infectados
Existem outros sabores e temas que fazem parte do labirinto da vida. Afinal qual a importância de se carregar um vírus hediondo, quando na diferença se encontram semelhanças que mostram o quanto os seres são iguais, pertencentes a uma espécie que se reconhece a si mesma como imperfeita e que o vai continuar a ser.